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domingo, 1 de outubro de 2023
NARCISOS NÃO FLORESCEM
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
Mar
Nos seus olhos há um mar
Intenso, infinito
É o mais bonito
Que eu poderia encontrar
É um mar adocicado
Como não podem ser
Os mares que seus olhos costumam ver
E que te deixam impressionado
Mar de águas escuras
Com refletância cristalina
Deixa leve tudo que ilumina
Acalma a mais feroz das criaturas
Olhando para este mar
Conheci o que é amar.
É uma rima tão pobre
Para um sentimento tão nobre
Porém nada mais conseguiria representar
Seu olhos, mar de amor
Têm o mais doce sabor
Que me faz afirmar:
São melhores que qualquer outro mar.
-E eu nunca vi um mar.
Você morreria feliz?
Você acorda um dia e sente
dores. Dores nas pernas, nas costas, nas mãos. Você espera que elas sejam
breves, mas descobre que elas não têm intenção de abandoná-lo tão cedo. Você
vai a vários médicos e eles lhe bombardeiam com nomes como “artrite”,
“reumatismo” e “artrose”. Você percebe que ficou velho.
Você se lembra dos anos que
passaram. Vêm à tona memórias da turma do futebol, da primeira namorada, da vez
em que você que você quebrou o braço, da sua formatura, dos colegas da
faculdade, do primeiro emprego, da primeira demissão, do seu casamento e do
nascimento de cada um de seus filhos e netos.
Você quer voltar no tempo e reviver cada um desses momentos, mas lhe
ocorre que eles agora pertencem a um passado bem distante. Você não tem outra
opção além de esconder esses desejos no porão de sua mente e continuar vivendo.
Você passa a tomar três, quatro,
cinco remédios por dia. Você deixa de ter cabelos brancos, mas, ao invés de
voltarem a ter a antiga cor de nanquim, como você gostaria, eles deixam sua
cabeça para sempre. Você percebe que as conversas com os seus amigos deixam de
ser sobre trabalho, casamento e filhos e agora têm início com “você sabia que
fulano morreu?”.
Você percebe que sua
aposentadoria, que parecia tão recente, já tem vários anos, e que você ainda
não fez nada do que gostaria de ter feito. No dia seguinte, você conta à sua
esposa que comprou passagens para vocês dois passarem dez dias em Paris, para
onde ela sempre sonhou viajar. Emocionada, ela lhe abraça e diz que não esperava
que você se lembrasse das bodas de vocês, que será na mesma época da viagem
marcada. Você realmente não se lembrara – Mas
isso não é no aniversário de 50 anos do casamento? Eu não estou casado há 50
anos, estou? –, ainda assim fica feliz pela coincidência. O tempo passa
rápido e você precisa fazer as malas. Logo chega o dia da viagem.
Você vai para o aeroporto. Você
se lembra da primeira vez em que esteve ali, quando tinha vinte e poucos anos
de idade e viajava sozinho. Naquela época, você se achava muito maduro,
acreditava que sabia tudo, mas hoje você se dá conta que era apenas uma
criança, que pouco conhecia do mundo. Você embarca no avião e percebe que ainda
tem medo de voar. Você segura a mão de sua esposa e aperta-a durante toda a
decolagem. Você nem se importa por ela rir de você, pois aquilo faz você se
lembrar do aniversário de 18 anos dela, quando você, morrendo de medo, foi
pedi-la em casamento ao pai dela. Neste momento, o riso dela é tão melódico e
contagiante quanto foi naquela ocasião, e, mais uma vez, lhe dá coragem para
enfrentar qualquer coisa.
Vocês finalmente chegam à Cidade
das Luzes, fazem check-in no hotel e saem para
conhecer as belezas diurnas. Sua mulher é artista, então você a leva a todos os
museus que vocês conseguem visitar em uma tarde. Vocês voltam para o hotel e se
arrumam para o jantar. Você a leva para a Torre Eiffel. Vocês têm uma noite
maravilhosa e nem ao menos se importam com o preço absurdo do lugar. Vocês se
beijam à luz da lua e voltam para o hotel de mãos dadas, mas as costas já não
colaboram e começam a doer. O tempo passa mais rápido e vocês já têm que
voltar. Por que você não tinha feito uma viagem dessas antes?
Você pede que seus filhos deixem
todos os seus netos dormirem na sua casa no dia do seu aniversário. Conta-lhes
histórias, brinca com eles e, à noite, junta seu colchão aos das crianças e
dorme ao lado deles. Você tenta a todo custo recuperar todos os finais de
semana que não passou com os pequenos que tanto ama. Deitado, recorda-se dos
momentos da sua própria infância. Quão próximos eles estão nas suas lembranças,
quão distantes no tempo, quão doces permanecem no seu coração. Na manhã seguinte, você e eles fazem um
grande café da manhã surpresa para os seus filhos. Observa cada um deles,
homens e mulheres adultos. Quando eles se tornaram essas pessoas? Outro dia
mesmo você os estava alimentando, trocando fraldas e brincando embaixo da chuva
no quintal.
Você acorda um dia e sente mais
dores. Você espera que elas sejam breves, mas descobre que elas pretendem
juntar-se às antigas. Você vai a médicos e faz exames. Dessa vez, todos eles
concordam: é câncer.
Você pode viver por mais alguns
anos ou poucos meses, mas não faz diferença para você. Você está velho. Isso não significa que você viveu por muitas décadas,
mas que você aproveitou cada momento de cada uma delas. Você fez com que eles
valessem a pena? Você realizou muitos dos seus sonhos, você trabalhou a vida
inteira, passou a vida ao lado de uma mulher maravilhosa e viu seus filhos e
netos crescerem. Isso lhe basta? Você se assusta ao pensar na resposta, contudo
não há mais tempo de responder. Não há mais tempo de planejar, nem de sonhar,
nem de realizar, nem de viver. Você
poderia morrer neste momento. Você morreria feliz?
inteligência - fraude - divergências
Pode
ser clichê que eu comece dizendo que escrevo estas palavras em um caderno de
folhas amareladas, à lápis, em pleno 2023, em meio a tanta tecnologia,
aparelhos e aplicativos – alguns até oferecem inteligência artificial para
completar uma frase, ainda que eu prefira o padecer de pensar. Também não seria
estranho que, em meio a tantos pensamentos, eu me questionasse sobre a
inteligência – a minha própria. Ora, tantas vezes já debochei de mim mesma
internamente por não entender muito sobre programação, mas achar que rabiscar
alguns versos era inteligência. E, não é?
Não
quero que me entendam mal, não sou uma destas pessoas alheias à tecnologia e às
redes sociais. Estas, por vezes, me irritam e me sufocam, é bem verdade,
entretanto ainda não consegui abandoná-las por completo e tornar-me, como dizem
um dos muitos jargões em inglês utilizados contemporaneamente, uma pessoa “low
profile”. Também não sou uma crítica ferrenha dos que leem em telas, apesar
de eu mesma não conseguir fazê-lo de forma eficaz. Acredito que o fato de
estarem lendo em meio ao caos de um mundo visto através de vídeos curtos já é
uma glória, não tirar-lhes-ei o mérito.
Porque,
SIM, qualquer leitura é importante. Percebo que soei como uma professora do
ensino fundamental nesta fala, tentando argumentar com pré-adolescentes as
razões pelas quais eles deveriam visitar mais frequentemente a biblioteca da
escola. Bom, peço novamente que não me julguem, também é meu lugar de fala, já
que leciono há catorze anos. Voltando à afirmação, é através da leitura que
conseguimos escrever; é conhecendo as palavras, interpretando figuras de
linguagem que conseguimos nos expressar melhor. Ah, e quantas vezes uma dúvida
pairou sobre minha mente, questionando se isso realmente era inteligência ou
mera obrigação. Sinto-me até envergonhada em dizê-lo aqui, sendo eu uma amante
das letras.
A
questão é que estamos muito acostumados a associar conhecimento como forma de
gerar renda, apenas. Maldito capitalismo que corrompe nossa visão e tira o brio
daqueles que são inclinados às artes! Que culhões tenho eu, perante o mundo,
para dizer que a estrofe de um poema necessita de tanta inteligência para ser
escrita quanto um código de programação? Chega a ser um sentimento de fraude,
de autossabotagem ferrenha, mas que esconde lá no fundo uma certa razão.
Isso
também não quer dizer que os versos de hoje em dia não despertariam a risada
irônica de Lord Byron ou finalmente consumiriam (de raiva) o coração de Percy
Shelley. A métrica, as rimas e os ritmos foram há muito esquecidos por aqueles
que têm pressa de escrever uma frase instagramável em três linhas, vendendo-a
como um devaneio disfarçado de poema. Perdoem-me, mestres da lírica, mas tais
escritas são necessárias como iscas na tentativa de fisgar uns e outros e
captura-los dentro do mundo da literatura.
Em
um mundo de pressas, espantar-me-ei com aqueles que chegarem até este ponto do
meu texto. Todos estão embriagados pela urgência do fazer, do ter e do parecer
que mal têm tempo para sentir, quiçá expressarem-se. Cada linha conta, afinal.
E eu, tão avessa a tais circunstâncias, me vejo impelida a retirar esses
pensamentos daqui do papel e transferi-los para algum dispositivo, mostrando-os
nas telas de alguns poucos leitores que se atreverão a mergulhar nas linhas e
entrelinhas, esperando que um ou dois deles reflitam, ao menos, que palavras
são arte, e arte é, sem dúvidas – mas com muitos julgamentos - uma forma legítima de inteligência.
terça-feira, 5 de julho de 2022
Somatória
Nunca fui boa em matemática
Apreciava mesmo a emoção sobre a razão
Até perder a conta em meio a tanta decepção
E perceber que toda a poética da vida
Se subtrai quando descobrimos que somos apenas mais um
(ou menos um?)